terça-feira, 7 de setembro de 2010

Eu

Quando me olho no espelho, Sinceramente me acho bastante razoável. Mas é só eu ver uma foto minha - mesmo que seja uma "boa" foto - para mudar de opinião. O ângulo do pescoço, a sobrancelha levantada, o sorriso forçado, a expressão repuxada, o olhar duro e fixo - tudo na foto parece forçado, não tem mais a simpática mobilidade com que me olho ao me pentear ou fazer a barba.

Será que não me olho, que não me enxergo bem quando estou diante do espelho? E, assim, penso que sou menos estranho do que de fato sou? Ou será culpa da máquina, do fotógrafo, que obtivera uma imagem arrancada com violência do fluxo confortável do tempo dentro do qual eu vivo?

Na pintura, os grandes auto-retratos - os de Rembrandt, por exemplo - parecem ter a preocupação de valorizar tudo o que houver de móvel, de instável, de flexível num rosto humano, na vida humana. Não surgem como a imagem fixa, repentina, de seu autor. Não é por acaso, talvez, que Rembrandt retratou a si mesmo em inúmeras épocas de sua vida. É como se o verdadeiro autro-retrato não terminasse nunca, tivesse de se estender ao longo dos anos, envelhecer como o rosto de quem o pintou.

Mas o que acontece com quem responde uma pergunta "quem sou eu?". Não tem como não fugir do instantâneo, do automático - de tudo aquilo que faz violência contra a duração do tempo, de sua consciência e de seu corpo. "Quem sou eu" está mais próximo de uma foto feita por uma pessoa do que a imagem que o autor tem de si mesmo no espelho. Por isso para a pergunta "quem sou eu?" a melhor resposta é "Não Sei!".


De onde tiro o conceito de pensar? Por que acredito em causa e efeito? O que me dá o direito de falar de um eu, e até mesmo de um eu como causa e, afinal, ainda de um eu como causa de pensamentos?
O grande problema da modernidade foi dividir equivocadamente a realidade entre sujeito e objeto. E isso porque leva-nos a crença de que existe um ser separado da natureza (o sujeito, o eu, o ego, o cogito, o homem) que pode intervir diretamente nela, inclusive, para conhecê-la, enquanto não conhecer a mim mesmo jamais conseguirei conhecer os outros.
TALVES EU SEJA A NATUREZA uma força responsável pelo surgimento e perecimento de todos os seres, a realidade primeira e última de todas as coisas. A unidade de forças que não permite um fora (um eu, um cogito, um homem). Todas as coisas, nesse mundo, já estariam dentro e em relação umas com as outras, principalmente as opostas, as contraditórias.
MAS NÃO SOU...EU SOU uma monstruosidade de força, sem início, sem fim, uma firme, brônzea grandeza de força, que não se torna maior, nem menor, que não se consome, mas apenas se transmuda, inalteravelmente grande em seu todo, em meu todo, eu crio a mim mesmo sendo eu quem eu quero, mas também destruo a mim mesmo. O MEU EU NÃO EXISTE, PELO MENOS NO SENTIDO CARTESIANO, NÃO SOU UMA REALIDADE INDEPENDENTE DO MUNDO, PORQUE SOU UM COM ELE. POR ISSO VIVO DE TAL MODO QUE TENHO DESEJO DE VIVER DE NOVO, VIVER UMA OUTRA VEZ. EU ENCONTREI no esforço o mais alto sentimento, que se esforça; quem encontra no repouso o mais alto sentimento, que repousa; quem encontra em subordinar-se, seguir, obedecer, o mais alto sentimento, que obedeça. Mas tomo consciência do que é que me da o mais alto sentimento, e não receio nenhum meio! Isso vale a eternidade! Pelo menos para mim.

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